A Direção de Serviços de Projetos Educativos da Direção-Geral da Educação, no âmbito do trabalho a desenvolver na área curricular de Cidadania e Desenvolvimento, lançou o “desafio de, em contexto de turma, promover a reflexão sobre o significado de certos provérbios, alguns dos quais inferem uma desigualdade de poder, de oportunidades e de visibilidade de homens e mulheres, conduzindo a uma subjugação do género feminino e também à promoção de uma masculinidade tóxica.”, acrescentando que “importa rescrever os provérbios que traduziam uma realidade patriarcal, de um género dominante face a outros, da oposição da esfera do lar para a mulher à esfera pública do homem, numa visão do passado e dar-lhes um cariz atual e sábio, que seja promotor de uma sociedade mais justa e igualitária, tal como preconiza o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO),…”.
Os alunos da turma A do 10.º ano, a trabalhar, nesse momento, a Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente, foram desafiados, na aula de Português, a pesquisar provérbios que inferissem essa desigualdade de poder, e a fazer uma posterior seleção mensal e respetiva reescrita “à luz dos princípios e valores consagrados no PASEO”.
Assim, no âmbito da área curricular de Cidadania e Desenvolvimento e integrada na Semana dos Afetos, os alunos do 10.º A foram ao encontro da nossa tradição popular, resultando desta aventura a seleção do provérbio do mês de FEVEREIRO, respetiva argumentação e atualização:
“Mulher assobiadeira, ou é bruxa ou feiticeira.”
Argumentação:
Este provérbio traduz uma realidade na qual a mulher alegre e opinativa é vista como algo de extraordinário, uma vez que é suposto esta ser discreta, calada e introvertida, ou seja, não opinar, ideia bem presente na obra literária Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente. Toda a mulher que contrarie esta realidade é vista como fora do comum, que foge às convenções sociais. Assim está subjacente, neste provérbio, um sentido pejorativo, que associa a mulher que se faz notar a uma bruxa ou feiticeira, figuras às quais está inerente alguma maldade ou anormalidade, já que o normal seria a mulher submissa ao homem, que vive na sua sombra e que dele depende para tudo, até para se fazer ouvir ou notar.
Provérbio atualizado: Mulher assobiadeira, não há quem não a queira.